15 das 20 cidades das últimas posições do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) não recebem emendas parlamentares há pelo menos um ano. Os últimos repasses ocorreram até junho de 2024, e a maioria não chegou a R$ 1 milhão. No levantamento foram considerados apenas valores pagos pelo governo federal. O levantamento foi feito pelo jornal O Globo.

O município mais pobre do Brasil, Marajó, no Pará, possui o IDH de 0,418, índice próximo ao de países africanos como Mali, onde a pobreza extrema afeta 60% da população. A última emenda recebida pelo município foi em abril de 2024, onde R$ 500 mil foi destinado ao Fundo Municipal de Saúde.

A cidade é sustentada pela agricultura de subsistência e a produção de açaí. Além disso, Melgaço enfrenta problemas como calor extremo, analfabetismo acima da média nacional e o isolamento geográfico.

Já Gurupá, também em Marajó, que tem IDH 0,509, recebeu R$ 9,3 milhões em emendas no mesmo período. A prefeita da cidade, Iracilda Alho (MDB), é aliada do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB).

Ao GLOBO, a professora da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Luciana Santana, afirmou que o alinhamento pode influenciar deputados e senadores no momento de decidir para onde destinar as verbas parlamentares.

“As emendas nem sempre seguem a lógica da necessidade real. Temos cidades muito pobres sendo sistematicamente preteridas. Em contrapartida, quem é próximo ao governador ou a deputados acaba sendo beneficiado. Falta uma lógica republicana nas decisões. O que se vê é a reprodução de privilégios”, disse.

Entre junho de 2024 e maio de 2025, foram repassados R$ 28 bilhões em emendas parlamentares. Cinco cidades beneficiadas no ranking das 20 com piores IDH receberam cerca de R$ 20 milhões, o equivalente a apenas 0,09% do total.

Já o município de Inhapi, em Alagoas, que ocupa a 14ª posição entre os mais pobres, recebeu sua última emenda em maio de 2024 no valor de R$ 900 mil.

O levantamento aponta, também, que a falta de transferências é uma realidade que não se restringe à lista de municípios pesquisados. Municípios como Alvorada, em Minas Gerais, e Araioses, no Maranhão, não recebem emendas desde 2023.

Araioses tem IDH de 0,521. No município, apenas 42,9% da população têm acesso à água tratada e só 34,4% contam com serviço de coleta de lixo. Já Alvorada apresenta índices um pouco melhores, com um IDH de 0,572, ainda assim considerado baixo.

Leia também

Mesmo com melhora no IDH, Brasil cai 2 posições no ranking da ONU em 2022