Mesmo após caso de gripe aviária, Goiás deve superar recorde histórico de exportação de carne de frango

21 junho 2025 às 21h00

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A confirmação do primeiro e único caso de gripe aviária em Goiás gerou preocupações quanto à possibilidade de impacto nas exportações de carne de frango do estado, responsável por 4,9% do total exportado em 2024. O dado é da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mesmo assim, especialistas garantem que as exportações estaduais não foram afetadas drasticamente e que, em 2025, o país deve ultrapassar a estimativa de aumento de 1,9% nas exportações em relação ao ano anterior.
Em entrevista ao Jornal Opção, o presidente da Comissão de Aves e Suínos da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Aloir Vicente da Silva, disse que o maior impacto comercial foi sofrido pelo Rio Grande do Sul, que registrou o primeiro caso do país em Montenegro. Depois disso, mais de 60 países – como Japão, China e Emirados Árabes – impuseram algum tipo de suspensão à compra da carne de frango brasileira, sendo total ou somente de locais com foco ativo. No caso de Goiás, o único caso foi registrado em uma fazenda de subsistência em Santo Antônio da Barra, ou seja, não afetou diretamente aves comerciais.
“Em Montenegro teve um impacto bastante significativo, já que aconteceu em uma granja de um produtor. Houve prejuízo econômico para os produtores. Tratando de Goiás, teve um foco de Influenza aviária em uma propriedade de galinhas de subsistência. Era uma pequena propriedade onde a pessoa mantinha no seu quintal uma criação de galinhas caipiras, que é tradicional aqui no estado. […] Essas aves eram restritas para o consumo da propriedade. Não eram aves que iriam para o comércio. E foi isolado rapidamente”, afirmou Aloir.
Mesmo assim, por conta deste caso, o Japão suspendeu a importação de carne de frango de Santo Antônio da Barra. O presidente da Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa), José Ricardo Caixeta Ramos, disse ao Jornal Opção que o foco no estado foi contido. Ele destacou ainda que o Brasil foi o último país produtor de frango a ter um foco de gripe aviária – problema recorrente nos Estados Unidos, por exemplo. “Hoje nós não temos nenhum problema além da restrição do Japão para criatórios daquele município, que são só cinco granjas comerciais e todas já estão despovoadas. São cinco granjas, o número de aves é insignificante para a integração. Não tem impacto. É um número ínfimo de aves relacionado ao universo que nós temos”, disse.
Esse impacto sentido por Goiás – como o embargo japonês – será “a curto prazo”, segundo o analista de mercado do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Marcelo Penha. Ao Jornal Opção, ele explicou que a exportação goiana chegou a aumentar 15,8% (em dólar) de janeiro a maio deste ano em consequência ao caso de gripe aviária no Rio Grande do Sul. ”Acredito que esse caso acabou levando algumas empresas do estado de Goiás a exportar melhor. Então, acabou por ser privilegiado”, disse.
No entanto, na primeira semana de junho, a exportação de todo o país caiu em 12%. Na segunda semana, a queda foi de 25% quando comparado com o mesmo período do ano passado, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). O caso goiano foi divulgado em 16 de maio. “O preço pago ao produtor caiu. No caso aqui de Goiás, caiu de R$ 6 para R$ 5,50 e, com certeza, vai continuar fortalecendo a oferta do varejo e isso pode fazer com que caia um pouco mais nesse sentido até o final do mês”, disse.
“A contaminação é muito rápida e o protocolo internacional de alguns países exige que interrompa imediatamente as exportações. Então, a médio e longo prazo, eu estou mais apostando no restabelecimento da comercialização”, disse Marcelo.
Segundo Marcelo, a tendência brasileira é aumentar as exportações de carne (de aves, suína e bovina) anualmente. Um crescimento de 2 a 3% ao ano, explicou. Mesmo com uma queda mensal devido aos embargos causados pela gripe aviária, Marcelo acredita que os números devem normalizar a partir de julho e também que a produção total do país deve compensar. “O Brasil está se tornando uma referência mundial na parte de produção de proteína animal. A gente deve bater meta esse ano, porque ano passado teve um recorte histórico”, afirmou ele.
Exportação goiana em expansão
No início do ano, a expectativa era de uma crescimento de 5 a 8% em relação a 2024, reafirmou o presidente da Agrodefesa. Mesmo que a primeira previsão não seja cumprida, ele acredita que a meta será superada. Foram exportadas 5,294 milhões de toneladas de carne de frango, de acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). 2025 seguia o mesmo ritmo, com o melhor primeiro trimestre dos últimos 10 anos. “As exportações vinham em uma crescente muito forte e a produção também. Mesmo assim, o Brasil deve ainda chegar no final de 2025, batendo os números de 2024”, disse José Ricardo.
Da Faeg, Aloir disse que empresas produtoras de carne de frango, como São Salvador Alimentos e BTZ, têm contratos a serem cumpridos até 2030. As empresas devem fornecer toneladas do produto nos prazos estipulados contratualmente, o que significa que a produção em Goiás deve aumentar. “A São Salvador Alimentos tem que dobrar a capacidade dela até 2030. Porque tem mercado, existe demanda. Ela não ia fazer isso para colocar carne no mercado de qualquer forma”, disse. Atualmente, a empresa abate mais de 500 mil aves por dia.
“As empresas estão em franca expansão e Goiás já está sendo olhado por outros olhos. Nós estamos num local privilegiado: temos um clima excepcional para a criação, temos uma tecnologia excepcional também, estamos em cima das commodities – que é um problema muito sério para o sul do país. Milho e soja existem em abundância para a criação. Existe infraestrutura e condições para vir para cá e reduzir seus custos, que é o que todas as empresas querem fazer, é produzir mais com o custo menor”, defendeu Aloir.
Parte da previsão de crescimento foi comprovada este mês, durante o pequeno abalado econômico da gripe aviária. Marcelo, nesses casos, analista de mercado do Ifag, afirma que a solução sempre é tentar desviar a carne para o mercado interno ou para países que entendem que o sistema de segurança brasileiro é efetivo. Países terem feito embargos parciais – apenas à cidade com foco – “mostra que o Brasil está sendo muito bem visto em relação aos aspectos produtivos e sanitários. Além do custo, o valor das nossas carnes é um dos valores mais baixos do mundo”, afirmou.
“O Brasil está muito bem visto no ranking mundial quanto ao aspecto produtivo e sanitário. […] A gente tem volume e preço, que é o que o comprador estrangeiro quer”, afirmou Marcelo. Justamente por conta do alto volume de produção brasileira, José Ricardo acredita na dominação brasileira desse mercado. Para ele, conforme os casos vão sendo controlados, os país devem retomar as importações: “por exemplo, a China vai retomar essas importações, essas compras, porque também ela não tem outro lugar no mundo que possa comprar frango”.
Preço no supermercado
Além da redistribuição no mercado externo, o mercado interno foi parte do plano de remanejamento de carne de frango, segundo Marcelo. O preço caiu de 3% a 7% no país. Em Goiás, a redução chegou a 20% nos últimos dias, segundo a Associação Goiana dos Supermercados. “Se não diminuir o preço para aumentar consumo, para regular produção e consumo, você vai ter problema de acúmulo de frango. Se não colocar para girar rápido, tem um problema de estoque aumentado. Então, acaba que cai o preço pouco no varejo”, explicou ele.
Já quanto aos ovos, o preço não foi impactado pela gripe aviária. Marcelo explica que, nesta época do ano, o preço do ovo costuma cair nos supermercados por conta do fim da quaresma, mas que esta é uma questão de mercado. “Agora que o preço da carne vai começar a aumentar, a partir agora da segunda quinzena. É um reflexo do preço da arroba da carne bovina. Quando a arroba começa a aumentar e passa da casa os 300, no supermercado passa da faixa do R$ 45. Há um reflexo de desvio da carne de primeira para uma carne mais barata e o ovo. Então isso acaba acontecendo normalmente a partir do segundo semestre”, disse.
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