Qual é o cheiro do espaço? Descubra os aromas surpreendentes do Universo

02 junho 2025 às 17h22

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Quando pensamos no espaço sideral, é comum imaginarmos silêncio absoluto, escuridão profunda e paisagens cósmicas impressionantes. Mas você já se perguntou qual é o cheiro do espaço? A resposta pode surpreender — e até causar enjoo.
Segundo Marina Barcenilla, cientista espacial, em reportagem da BBC, perfumista e doutoranda em Astrobiologia na Universidade de Westminster, Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar, tem um cheiro comparável a “uma bomba de fedor”.
Isso se deve à complexidade química de suas camadas de nuvens. A camada superior, composta por gelo de amônia, remete ao cheiro de urina de gato. Conforme se desce na atmosfera, surgem compostos como o sulfeto de amônia, que une amônia e enxofre, criando um aroma ainda mais desagradável, semelhante ao de ovos podres.
Mas a experiência olfativa em Júpiter não para por aí. Barcenilla sugere que, em meio às nuvens densas, também há toques doces, como o de marzipã, e, mais abaixo, aromas que lembram petróleo, alho e gás.
Essas camadas químicas contêm substâncias como fósforo e tolinas, moléculas orgânicas complexas associadas ao cheiro de gasolina. Segundo a cientista, explorar Júpiter profundamente não seria apenas perigoso — com pressão atmosférica mortal —, mas também extremamente fétido.
Barcenilla se dedicou a recriar os odores do espaço em laboratório como parte de uma exposição do Museu de História Natural de Londres. Sua motivação nasceu da curiosidade sobre como o cosmos cheira e do desejo de traduzir isso para o público.
E o espaço ao redor da Terra, como cheira? A astronauta britânica Helen Sharman, primeira do Reino Unido a ir ao espaço, conta que durante sua missão na estação soviética Mir, em 1991, foi presenteada com um pequeno ramo de absinto por Alexei Leonov, o primeiro ser humano a realizar uma caminhada espacial. O aroma do absinto, semelhante ao da sálvia, trouxe conforto durante sua estadia.
Dentro da estação, havia pouco cheiro perceptível devido à ausência de convecção na microgravidade — o ar quente não sobe, então os aromas não se espalham como na Terra. No entanto, após caminhadas espaciais, muitos astronautas relataram um odor peculiar aderido aos trajes: uma mistura de solda, metal quente, carne queimada ou até fiação elétrica derretida.
Esse cheiro metálico intrigante pode ter origem na reação de oxigênio atômico — presente na atmosfera residual do espaço — com superfícies expostas. Quando os astronautas retornam ao interior da estação, o oxigênio atômico reage com o oxigênio da cabine, formando ozônio, responsável por um aroma elétrico, similar ao cheiro sentido logo após uma tempestade.
Outros elementos misteriosos do espaço também têm cheiro. Estrelas moribundas, ao explodirem, liberam Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA), moléculas associadas ao odor de queimado, naftalina ou plástico derretido. Esses compostos vagam pelo espaço e podem dar pistas sobre a formação de novos planetas, cometas e até ingredientes da vida.
Os cheiros não se limitam ao nosso Sistema Solar. Em 2022, o Telescópio Espacial James Webb identificou pela primeira vez a presença de dióxido de carbono na atmosfera de um exoplaneta, WASP-39 b, localizado a mais de 700 anos-luz da Terra.
Embora o telescópio não “sinta cheiro” da forma que conhecemos, ele detecta compostos químicos ao observar como a luz das estrelas é filtrada por atmosferas planetárias.
Em outros mundos, os odores também são variados. A análise da atmosfera de Titã, a maior lua de Saturno, sugere um cheiro de amêndoas doces misturado com gasolina e peixe podre. Já o planeta HD 189733 b, a cerca de 64 anos-luz da Terra, pode exalar um fedor insuportável de ovos podres.
Nuvens interestelares, como Sagittarius B2, próximo ao centro da Via Láctea, contêm moléculas como etanol, metanol, acetona e até etilenoglicol, substância usada em anticongelante. Essa mistura química cria um aroma bizarro, que alguns pesquisadores descrevem como sorvete artificial misturado com amônia.
Por fim, há o famoso aroma de framboesa atribuído à galáxia. Isso se deve à presença do formiato de etila, uma molécula que, isoladamente, não cheira a framboesa, segundo Barcenilla. Mas é uma entre muitas substâncias aromáticas que compõem o vasto e misterioso perfume do cosmos.
Sentir o cheiro do espaço, mesmo que de forma indireta, é mais do que uma curiosidade sensorial. É uma ferramenta científica poderosa para entender a composição química de outros mundos, identificar ambientes habitáveis e, talvez, encontrar sinais de vida fora da Terra. Afinal, até mesmo um leve cheiro de repolho podre em um exoplaneta como o K2-18b pode ser um indício de processos biológicos em ação.
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