Um projeto piloto realizado no Rio Grande do Norte entre 2022 e 2023 demonstrou que a telemedicina pode ser uma resposta eficaz à longa espera por atendimento especializado no Sistema Único de Saúde (SUS). Por meio da iniciativa TeleNordeste, o tempo médio de espera por uma consulta com cardiologistas, endocrinologistas, neurologistas e psiquiatras caiu para apenas sete dias, com destaque para a especialidade de cardiologia, que registrou tempo médio de cinco dias.

Os dados constam no artigo científico “Assistência médica especializada na atenção primária por meio da telemedicina no Nordeste do Brasil: estudo descritivo, Rio Grande do Norte, 2022‑2023”, publicado na edição de 2025 da revista Epidemiologia e Serviços de Saúde, vinculada ao Ministério da Saúde. No total, 572 pacientes participaram da experiência, com 847 atendimentos remotos realizados em Unidades Básicas de Saúde (UBSs) de municípios do estado.

A resolutividade impressiona: 565 pacientes tiveram seus problemas resolvidos sem necessidade de encaminhamento presencial, o equivalente a 99% dos casos. Outro dado relevante é que 71,8% das teleconsultas foram primeiras avaliações, contribuindo diretamente para a redução das filas de espera.

“Os resultados mudam vidas. Evitar o deslocamento e oferecer atendimento perto de casa, com qualidade e agilidade, significa devolver dignidade ao cidadão que depende exclusivamente do SUS”, afirma a professora Fernanda Campos de Almeida Carrer, da Universidade de São Paulo (USP), autora do estudo.

Comparação com o Reino Unido

O tempo de espera registrado no projeto brasileiro contrasta fortemente com o que ocorre em outros países com sistemas públicos universais. No Reino Unido, o NHS (National Health Service) estabelece como meta que consultas não urgentes com especialistas sejam marcadas em até 18 semanas — o que equivale a mais de quatro meses de espera, frente aos sete dias observados no modelo potiguar.

Além da rapidez, o projeto se destacou pela efetividade no tratamento de doenças crônicas, especialmente cardiopatias (60%) e diabetes (51,2%), condições que exigem acompanhamento contínuo e especializado. O atendimento foi realizado dentro da atenção primária, o que facilita o acesso e fortalece o papel das UBSs na coordenação do cuidado.

Desafios para expansão

Apesar do sucesso, os pesquisadores ressaltam que se trata de um estudo piloto. Um dos principais desafios é a falta de dados confiáveis sobre o tempo de espera anterior à implementação do TeleNordeste, o que dificulta comparações mais precisas.

Outros entraves incluem a infraestrutura digital insuficiente em algumas regiões, o que limita a viabilidade da telemedicina em áreas mais remotas, e a necessidade de integração entre os diferentes níveis de atenção à saúde, para garantir continuidade do cuidado.

Ainda assim, o modelo está sendo adotado por outros municípios nordestinos. Um exemplo é o município de Lastro, na Paraíba, que em 2023 aderiu formalmente ao projeto por meio de uma parceria com o Hospital do Coração (HCor-SP) e o programa Proadi-SUS. Lá, a telemedicina já é aplicada em mais de 14 especialidades, com resultados semelhantes: redução de deslocamentos, maior capacidade de resposta nas UBSs e institucionalização do serviço no SUS local.

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